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Ela 
era conhecida pela destreza na arte de fazer redes. 
Ausente totalmente da vida mundana  
era 
considerada pelas fofoqueiras como  
o 
melhor ouvido daquele interior. 
Iletrada e boboca enfrentava qualquer mau tempo  
para tentar pagar as despesas da casa. 
Antes do sol nascer o cheiro 
do café  
se 
espalhava na casa,  
os 
filhos enrolados nas redes,  
molhados de urina dormiam o sono  
da 
inocência tolerante.  
Depois corriam pelo quintal de pés nus,  
pisando ora no barro, ora na lama,  
brincando até a hora do leite com tapioca ficar pronto. 
  
						
  
						
  
A 
vista do lado de fora da janela  
ligava a ponte à realidade e a Deus.  
A 
mulher só levantava da máquina de costura  
quando chegava o momento condizente  
com 
o por do sol e com o descanso.  
Cheia de sentimentos nevoentos  
na 
última tragada do fumo  
antes da madrugada surgir na rede,  
espantava os carapanas com um guardanapo molhado. 
A 
vida era comprida, e,  
o 
vai e vem do rio Solimões embalava  
os 
sonhos da mulher naquele lar  
sem 
beijos ou abraços de homem,  
pois o semideus aparecia quando queria,  
todo de branco com um chapéu de palha na cabeça,  
e a 
boca doce de amor. 
						
  
						
  
  
Depois do sexto mês logo após  
o 
relógio marcar a zero hora,  
ele 
chegava para acalmar a ausência, e,  
de 
repente eram beijocas e beijocas,  
eles exalavam amor no barraco.  
Naquele laço promíscuo dentro da miserável vida  
a 
ninhada aumentava.  
A 
tragédia não intimidava o esbelto homem  
nem 
a cabocla.  
O 
cheirum da rede dos filhos,  
os 
olhos remelentos,  
a 
barriga dilatada das crianças  
era 
a mais bruta realidade, e,  
vinha acompanhada com o cinismo,  
ignorância e o fatal egoísmo dos dois.  
Só 
o poente testemunhava  
o 
desamparo dos caboclinhos. 
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